quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crônica de um amor correspondido



Era uma vez uma moça muito cobiçada e desejada por todos, chamada Libertadores. Como todas as mulheres, não se rendia a qualquer gracejo, o cara tinha que suar muito pra conquistá-la. Me lembro que seu primeiro amor foi um uruguaio, com quem ela passou 2 anos e parecia estar encantada, ter encontrado o amor de sua vida. Mas o primeiro amor dificilmente é aquele pra vida toda, isso não é novela, é uma história real! Foi então que ela se descobriu numa paixão arrebatadora por um brasileiro. E é dever dizer que da parte do brasileiro foi amor à primeira vista. Esse brasileiro de nome Santos a encantou, também pudera, o garoto era especial, digamos assim, o melhor de todos os tempos. Mas logo de cara, Santos percebeu que a Libertadores era "diferente", não seria fácil domá-la e conquistá-la. Por onde o Santos ia, era aplaudido de pé pela Libertadores, fazia o impossível acontecer pelo seu grande amor. E assim viveram 2 anos inesquecíveis, apesar do uruguaio estar sempre por perto e surgir um argentino milongueiro no caminho também...
Infelizmente, alguns mal-entendidos separaram o Santos da Libertadores. O garoto queria viajar o mundo, ganhar muito dinheiro e ser conhecido em todo o planeta, mas a Libertadores não podia sair de seu continente. Assim a vida seguiu por muito tempo e a Libertadores conheceu muitos argentinos, uruguaios, paraguaios, colombianos, chilenos, inclusive outros brasileiros, mas nunca esqueceu seu grande amor Santos, ainda que não admitisse a ninguém. Muito tinhosa essa Libertadores, uma fera quase indomável. Santos também ficou um pouco decepcionado com a atitude da Libertadores e resolveu dar um tempo mesmo na relação, sumiu por um bom período. Às vezes, a saudade é a maior prova de amor que se pode obter, e Santos nunca negou que a Libertadores era seu grande amor na vida, o tempo provou isso a ele, com muito sofrimento e esperança que um dia pudessem se reencontrar.
Santos era bastante clássico, não tinha dinheiro de sobra nem era bancado pelos outros, tudo que conquistou foi com muita luta e sua filosofia de vida era aproveitar ao máximo o que se tinha em casa, não desperdiçar. E a Libertadores valorizava isso, ainda que tenha saído aqui e ali com uns mauricinhos que não davam valor às pratas da casa. Mas Libertadores logo os esquecia, era coisa passageira.
Muito tempo depois, Santos e Libertadores voltaram a se encontrar em 2003, ele um rapaz mais experiente, porém com uma jovialidade que não se via há algum tempo, ela já uma mulher formada, mas por vezes ainda indecisa. E naquele ano o Santos fez de tudo para conquistá-la, trazia à tona as memórias dos anos dourados que viveram juntos, parecia que era o mesmo Santos de tantos anos atrás, um espetáculo de encher os olhos a história desses dois...tudo seguia muito bem e a Libertadores ia se entregando de corpo e alma aquele amor pra vida toda. No entanto, no momento final, Libertadores acabou caindo na milonga daquele argentino mequetrefe e disse não ao Santos, um baque difícil de suportar. Aquele argentino se revelaria um tremendo conquistador nos anos seguintes, enquanto que o Santos passou esse período por perto, decidiu se fixar no continente e flertar com a Libertadores, conseguindo alguns encontros, mas não voltou a conquistá-la. Era nítido que a Libertadores, como toda mulher, gostava de ser cortejada, desejada, mas não se enganem, ela exigia respeito. E, sem querer ofender os outros caras, foi desde sempre o Santos quem conseguiu o equilíbrio da ousadia e do respeito pela Libertadores. Já presenciamos alguns muito atirados, outros comedidos demais conquistá-la, mas com a intensidade certa, a medida perfeita só o Santos mesmo havia conseguido.
Eis que chegamos ao ano de 2011, e a Libertadores chegou a confidenciar a pessoas próximas a ela que estava de olho no Santos desde 2010. O rapaz também estava irresistível, sempre bem apresentado, e enfatizando como sempre seus valores trazidos de casa. Santos não mudava sua personalidade, sua coerência beirava à teimosia em alguns momentos, e sua admiração pela Libertadores só fez crescer desde 2003. Eles então se encontraram em 2011, muito nervosismo de parte a parte, mas dessa vez a Libertadores percebeu que o Santos estava se preparando para ela, que aquele Santos era diferente dos outros caras, e por isso mesmo, tão parecido com o Santos dos tempos áureos, melhor que o de 2003. O Santos entretanto titubeou como nunca, parecia inseguro e nervoso. No dia do aniversário do Santos, eles se encontraram e a Libertadores lhe deu um presente que mudou tudo. Ela, pela primeira vez, demonstrou claramente que queria o Santos! Libertadores foi dispensando seus pretendentes pomposos rapidamente, dessa vez ela estava plenamente decidida sobre o que queria. Era o que faltava para o Santos, que cheio de segurança a partir de então, começou a se encontrar com a Libertadores toda semana "e a vontade crescia, como tinha de ser"...
Chegou então o centésimo encontro entre o Santos e a Libertadores, uma marca importante em qualquer relacionamento. E não é que aquele uruguaio, o primeiro amor da Libertadores, resolveu dar as caras?! Se apoiando exclusivamente no passado, ele tentava reconquistá-la a todo custo, mas parecia vazio nos dias atuais, tão sem graça, tão sem brilho. Ainda assim, o Santos quis se precaver, colocou seu traje de gala e juntou o passado e o presente pro centésimo encontro, mostrou à Libertadores como sempre a respeitou e que podia ousar na hora certa, o Santos sabia o momento de ousar, porque sabia o que queria, estava equilibrado e seguro como há tempos não se via. A Libertadores não resistiu...escolheu ficar com o amor de sua vida e confessou já nos braços do Santos: "como eu senti saudades de voce, não faz mais isso comigo, eu quero ficar com voce por muito tempo ainda, eu te amo!", enquanto que o Santos, com as lágrimas correndo pelos olhos, respondeu: "eu sempre soube disso, também morri de saudades e te amo mais que tudo nessa vida!".

Essa é a história de amor entre Santos Futebol Clube e Copa Libertadores da América, que foram feitos um para o outro, como pude comprovar em 22/06/2011, na noite mais emocionante que o futebol já me proporcionou...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Saudade...

Como é possível uma pessoa sentir saudades de algo que não aconteceu de fato? Como diz o Chicó "não sei, só sei que é assim". Costumo sentir saudade de coisas que acho que gostaria, de coisas que não sei definir o que foram ao certo, mas que ainda assim essa dúvida, essa incerteza, me causa saudade e vontade de relembrar, de reviver, de viver...
Deve ser por isso que a palavra saudade está entre as mais difíceis de serem traduzidas, é um troço estranho, não é ruim, ao mesmo tempo que não é bom. Quando penso em saudade, minha primeira reação é um sorriso leve, aquele sem mostrar os dentes, do tipo que lembrou de alguma coisa boa, algum momento feliz mas que nem sempre é possível reeditar. Gosto de pensar que a saudade é a memória sentimental, aquela que vem do coração, diferente da outra que vem do cérebro. É a memória que passa longe da decoreba, o retrato fiel que fixamos com o menor esforço e o maior prazer.
Eu gosto da saudade, gosto de sentir saudade, me ajuda a lembrar o que gostei e quero repetir, assim como me impede de esquecer pessoas e momentos que conheci e vivi, ainda que nos os dê a devida atenção, os guardo com carinho na memória sentimental, a minha saudade...

sábado, 4 de junho de 2011

C'est la vie...

Nem sempre tomamos as decisões corretas nas nossas vidas. Às vezes, sequer tomamos decisões. O balanço entre essas "mudanças" vai formando o que somos, mas nem sempre o que queremos ser. Eu mesmo já quis ter coragem pra tomar muitas atitudes e não as fiz. Assim também como não me arrependo de não ter tomado outras tantas. A vida é assim mesmo, ora achamos ter o controle dela, ora nos sentimos meros fantoches de uma força maior que não respeita nossos interesses.
Ainda tô aprendendo a conviver com mudanças que não previ, desvios de rota repentinos, essas pegadinhas que a vida apronta com a gente. Progressos já foram feitos, tenho certeza. Ainda me pergunto porque algumas coisas me acontecem, mas faz parte do aprendizado. É complicado superar algumas decepções que temos com os seres humanos, mas fazer o que, se isso acaba me tornando mais teimoso ainda em seguir em frente e procurar conhecer as pessoas "certas" da próxima vez? Que fique registrado: eu não vou desistir!!!

Clarice Lispector

Bom, na falta de postagens da minha parte, por preguiça e também por não saber escolher as palavras mais apropriadas para me expressar, repasso um texto brilhante de Clarice Lispector. Retirei o texto do site laurapoesias.com (o site pedia pra dar os créditos, então tá...rs)

Rifa-se um coração

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade
está um pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado,
coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu... "não quero dinheiro,
eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece,
e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que,
abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente e,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que,
ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta.