quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Cegueira reveladora

Baseado no livro de Jose Saramago, o filme "Ensaio sobre a cegueira", de Fernando Meirelles, é daqueles filmes difíceis de se ficar indiferente. Há quem goste e quem odeie. Apesar de o considerar demasiado fiel à obra literária, ao mesmo tempo em que ameniza situações-limite contidas no livro, considero o filme um dos melhores do ano. A história funciona como uma paródia da realidade: pessoas que não enxergam nada, despreparo dos governantes para lidar com os problemas, indivíduos que buscam em todas as ocasiões levar alguma vantagem e um medo irracional diante daquilo que não se conhece. E no meio desse turbilhão todo, um ser humado sensível aos problemas alheios é "testado" à exaustão. O "ensaio sobre a cegueira" é também um ensaio sobre a solidariedade. A "mulher do médico" é um exemplo de perseverança, de amor primeiro ao seu companheiro, depois aos seus colegas e, na medida do possível, de sensibilidade à extinção gradativa dos traços de humanidade que acompanhamos durante o filme. Seu papel é tão sublime quanto ingrato; tão importante qaunto angustiante; tão esperançoso quanto assustador. É como se "alguém" a tivesse deixado com a visão para que registrasse a desgraça na qual a humanidade pode se meter sem maiores esforços. A mulher do médico é ao mesmo tempo o fio de esperança da humanidade e a retina que apenas testemunha o seu fim. E nesse ponto se encontra a relevância do filme. Podemos enxergar o que está acontecendo à nossa volta, cabe então fazer algo a respeito, não se omitir. Como diz a epígrafe do livro: "se podes olhar, vê. Se poder ver, repara.". Ou ainda uma música do Los Hermanos "é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê". Sonhar é possível, sonhar é preciso. Ir além do que se vê também.

Um comentário:

Vanessa disse...

Eu curti muito o filme!
É claro que o livro sempre é mais completo e neste caso angustiante, mas o diretor fez um ótimo trabalho.
O enredo é daqueles que te tiram o sono...